Ana e o pernilongo
Havia um pernilongo
chamado Lino
que tocava violino.
Mas era tão pequenino
o Lino
e tocava tão fino
o seu violino,
que nunca ouvi o Lino
nem, vi o Lino.
José Paulo Paes.
segunda-feira, 19 de março de 2012
Poemas-6
Procura da poesia
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não cplhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secreta sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolem num rio difícil e se transformam em desprezo.
Carlos Drumond de Andrade
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não cplhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secreta sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolem num rio difícil e se transformam em desprezo.
Carlos Drumond de Andrade
Poemas -5
Relógio
As coisas são
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vêm
Não em vão
As horas
Vão e vêm
Não em vão.
Oswald de Andrade
As coisas são
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vêm
Não em vão
As horas
Vão e vêm
Não em vão.
Oswald de Andrade
Poemas-4
Nunca diga
Nunca diga
o que eu digo.
Se eu digo
"esta flor é vermelha"
diga:
"esta flor é amarela".
Se eu digo:
"não arranque esta flor",
diga:
"vou arrancar esta flor".
Se eu digo:
"cuidado com os espinhos"
diga:
"não ligo para os espinhos"
Não diga
o que eu digo,
por isso
não poderá dizer:
"esta flor é amarela"
"vou arrancar esta flor"
"não ligo para os espinhos"
Pois quem disse
fui eu
e não você.
Então agora,
o que tem
a me dizer? Heitor Ferraz
segunda-feira, 12 de março de 2012
Poemas-3
Poema
A poesia está guardada nas palavras- é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias
(do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.
segunda-feira, 5 de março de 2012
Poemas-2
Traduzir-se
Uma parte de mim é todo mundo
outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão:
Outra parte é solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera:
outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta:
outra parte se espanta.
Uma parte de mim á permanente:
outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem:
outra parte, linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte- que é uma questão de vida ou morte- será arte?
Poemas
É poema ou não é?
Arnaldo Antunes.
"O girino é o peixinho do sapo. O silêncio é o começo do papo. O bigode é a antena do gato. O cavalo é pasto do carrapato. O cabrito é o cordeiro da cabra. O pescoço é a barriga da cobra. O leitão é um porquinho mais novo. A galinha é um pouquinho do ovo. O desejo é o começo do corpo. Engordar é a tarefa do porco. A cegonha é a girafa do ganço. O cachorro é um lobo mais manso. O escuro é a metade da zebra. As raízes são as veias da seiva. O camelo é um cavalo sem sede. Tartaruga por dentro é parede. O potrinho é o bezerro da égua. A batalha é o começo da trégua. Papagaio é um dragão miniatura. Bactérias num meio é cultura."
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